Só quem transita frequentemente pelo Centro nota e distingue
as diferentes vozes que anunciam de tudo. O turbilhão de informações pode
causar confusão na cabeça daquele que desconhece esses variados anunciantes.
Para quem os escuta diariamente, no entanto, é fácil reconhecer cada
propagandista e seu respectivo produto. Não que os transeuntes prestem atenção
e fazem análises meticulosas sobre os slogans, mas é impossível não reter na
memória os anúncios.
“Foto, foto na hora”, “fábrica de calcinha” e “corte de cabelo” já tiveram seu charme no passado. Mas o desenvolvimento da atividade impulsionou a criatividade desses profissionais. Até a criação do camelódromo, uma das mais populares chamadas era “Cededevedê, Cededevedê”. Esses comerciantes, porém, escassearam com o crescimento do combate a pirataria.
Outro que outrora talvez tenha sido o mais popular de todos e foi extinto é o “vale-vale”. Parecia uma orquestra – desafinada, é claro – aquele grupo de rapazes sacudindo saquinhos de fichas de ônibus enquanto bradavam “compro vale, vendo vale, troco vale”. O advento do Tri, no entanto, decretou o fim dessa classe que dominava a esquina da Marechal Floriano com a Otávio Rocha.
Deve-se salientar que há uma divisão de categorias. Há um grupo que anuncia e vende o produto diretamente. Há também aqueles que apenas chamam o cliente para o estabelecimento, que é o grupo mais amplo.
Desta segunda categoria, é possível lembrar muitos que ajudaram a disseminar o serviço pelas artérias centrais de Porto Alegre. “Compro ouro”, “piercing e tatuagem”, “empréstimo, empréstimo na hora” e “tênis Nike e Adidas” são os mais comuns. Ainda podem ser encontrados, na Esquina Democrática, os cambistas: “Ingresso para o Exaltasamba” ou “Sorriso Maroto, não pega fila”.
A popularização do celular de chip e as facilidades para utilizar o serviço de diversas operadoras catapultaram os anunciantes de chip para a vanguarda do serviço em questão. Ao contrário dos profissionais de outros seguimentos que possuem um único ponto de trabalho, os responsáveis pelos chips estão espalhados por todo parte. Mais que qualquer outro, o anúncio de chips ganhou tamanha proporção que oferecem o produto com preços cada vez menores no mesmo passo que cada vez com mais vantagens. É impossível atravessar uma quadra inteira do Centro sem que se ouça “chip da Tim por cinco reais com dezesseis de crédito em bônus” ou “chip da claro por três reais com acesso a internet ilimitado” ou ainda “chip da Oi por dois reais com torpedo SMS gratuito”.
Ao lado dos anunciantes de chip, estão entre os maiores propagandistas os vendedores de guarda-chuvas. Estes são, na atualidade, os maiores expoentes da classe de vendedores diretos. Ninguém sabe de onde vem a mercadoria, mas é só o tempo se armar e eles aparecem com uma braçada de morcegões, gritando “é a dez o gigante” ou “paga dez e não se molha” e ainda “barato o guarda-chuva”. Além de popularíssimos, eles são os mais temidos. A concorrência acirradíssima já motivou um homicídio. Na disputa pelo ponto de venda, um vendedor fincou o produto na cabeça dum colega. Desde então os cliente nem tentam mais barganhar.
Dos vendedores diretos, ainda merecem destaque os tímidos anunciantes de “crachá pro Tri”, “Doutorzinho” e o já proibido “Giz que mata barata”. Nenhum ainda supera os clássicos do passado como “baaaarbatana, pente e agulha”, os guris da Caldas Júnior com o “Óia a Foia” e a maior de todos os tempos: Maria Chorona, que tinha no pranto a eficácia do seu negócio.
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