segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O apartamento do lado - versículo 11

Ringo voltou a si quando o empurraram. Um guri que alegava ser estudante de medicina entrou no Box para ver se Penélope ainda tinha chance de vida. “Chamem uma ambulância”, ordenava. Em vão. O jovem constatou que ela estava morta. Quando chegaram, os médicos confirmaram. Sabendo do desfecho e considerando a hora da madrugada, as pessoas começaram a ir para suas casas.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O apartamento do lado - versículo 10

Emendando fio daqui, cortando fio dali, Ringo conseguiu fazer com que o chuveiro jorrasse água quente. Penélope perguntou quanto lhe devia pelo serviço. Ele não queria saber de dinheiro, esperava outra recompensa. “Ah, não precisa se preocupar com isso”. A vizinha insistiu, sem sucesso. “Então, volte quando quiser, para a manutenção”, convidou, desenrolando-se da toalha. Vendo todas as curvas e carnes de Penélope à mostra, Ringo avançou devagar em direção a ela. “Não. Volte depois do fim de semana”, ordenou ela com a máxima sensualidade. Eufórico e excitado, ele consentiu e saiu.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O apartarmento do lado - versículo 9

Com os olhos fixos em Penélope, mas sem vê-la, Ringo lembrava. Na tarde anterior a vizinha, enrolada numa toalha, bateu na sua porta perguntando de ele não sabia consertar chuveiro. Conhecendo muito bem a cantada e a reputação de Penélope, não vacilou e aceitou. Chegando lá, constatou que o chuveiro estava mesmo estragado. Não entendia absolutamente nada de eletricidade, mas meteu-se a consertar a ducha.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Vídeo da Revolução Francesa

O princípio da Idade Contemporânea

Muito legal o resumo que essa gurizada fez da Revolução Francesa. A exceção fica por conta de uma foto do Luis 14 enquanto falavam do Luis 16. Mas de resto, bom, com o formato e a linguagem muito original.

O apartamento do lado - versículo 8

Enquanto os vizinhos iam se aglomerando no banheiro, Ringo permaneceu empedernido a porta do Box. Os braços pretos de Penélope revelavam a descarga elétrica que sofrera. Sabendo as causas do ocorrido, Ringo encheu-se de remorso. Corriam os comentários. “Oohhh, está morta”, espantava-se um, “era o fim que merecia”, taxava outra, e outro ainda “olha ali, peladinha, não é um espetáculo?”.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O apartamento do lado - versículo 7

O local parecia vazio. Ringo olhou em volta. Tudo estava igual ao dia anterior, quando entrou pela primeira vez naquele apartamento. Outros já iam preenchendo o vazio da sala. Na porta do banheiro, Ringo sentiu “um frio correr pela espinha”. Ainda saía fumaça do que restara do chuveiro. Deu mais uns passos e abriu a porta do box. Viu Penélope em pêlo atirada no chão.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O apartamento do lado - versículo 6

“Tá saindo uma fumaça da janela da vizinha”, explicou a mulher, ainda trêmula. Um dos “caras” entrou no apartamento dessa senhora e foi verificar. Viu somente um vaporzinho que já ia parando. Falou para entrarem logo e a porta foi arrombada. O primeiro que ia se metendo para dentro da casa ouviu a esposa “Lorival, chispa para cá”, tentou redarguir “mas, mãe...” e ela continuou “tu não vai entrar no apartamento da vergonha”. Lorival, que ia curioso, obedeceu. Ringo saltou para dentro.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O apartamento do lado - versículo 5

Bateram na porta, tentaram a campainha e de nenhuma forma obtiveram resposta. Ringo sugeriu arrombar a porta. Um outro concordou, mas logo uma senhora advertiu “pode ter alguém armado aí dentro”. Era pouco provável, o estouro não parecia ser de revólver. Quando um já tomava distância para meter o pé na porta, uma vizinha surgiu no corredor aos berros “tá pegando fogo, tá pegando fogo”.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

No centro de Porto Alegre...

A petulância de um mendigo

Eu estava esperando o ônibus, na parada do Santana, ali no Marcado Público. Durante aqueles poucos minutos de aguardo pela condução, que pareciam infindáveis, a ansiedade tomou conta de mim. Consultava o meu relógio, olhava para o painel que mostravam as horas e a temperatura naquele terminal, contava as lajotas do piso e nenhuma distração fazia o tempo passar. Não lembro qual, mas comecei a bater o pé ou balançar a perna em decorrência da angústia pela espera do veículo. Minha aflição teve fim quando vi surgir, lá na Júlio, o letreiro luminoso escrito Santana. Já passava a mão pelos bolsos para sacar o cartão TRI, quando vi um homem interpelando o passageiro à minha frente. Pedia dinheiro para comprar comida. Não recebendo ajuda da mulher, o mendigo veio em mim.– O senhor poderia me ajudar com um dinheiro para comprar comida? O senhor mesmo pode ir ali e pagar para mim. Não é para alimentar vícios, moço, é para matar a fome.
Para quem não sabe, uns três metros adiante da parada do Santana tem uma carrocinha de cachorro quente. Foi para ela que o pedinte apontou quando disse “pode ir ali e pagar para mim”. Enquanto o faminto esfarrapado tentava me convencer de pagar o lanche para ele, a fila andou e eu já estava na porta do ônibus.
– Então? – perguntou ele – é um e cinqüenta.

Eu recém tinha saído do La Persona, um magnífico restaurante ali da esquina da Andradas com a Ladeira. Estava com a barriga cheia. E não é figura de linguagem. Era cheia mesmo. Não almoço nesse estabelecimento todos os dias porque, em um mês, correria o risco de não passar mais pela roleta do ônibus. Toda vez que vou nesse restaurante, lá na ponta do bifê, aquele que penso que é o dono do local, já me espera com uma fatia generosa de matambre recheado. Muitas vezes, confesso que tenho vergonha dos olhares das pessoas diante do meu “prato de estivador”.

Essa minha satisfação por ter cometido o pecado da gula, me fez pensar “puxa, comi tão bem, estou farto e satisfeito com meu almoço e esse cara que não se sabe há quantos dias não come”. “Que falta vai me fazer um e cinqüenta”, ainda pensei. Assim saí da fila e fui pagar a comida do pobre infeliz.
– Pode preparar um com lingüiça, que ele vai pagar – anunciou o mendigo para o “preparador de hot dogs” – é dois e cinqüenta – informou-me o pobre, esfregando as mãos e mostrando os escassos dentes que lhe restavam na boca.
– Eeeeii, peraí. Tu disseste que era um e cinqüenta...
– Ah não, eu quero esse.
– Então, NÃO.
– Aaahhh mas, como assim? Tu disse que ia me dar, cara.

Já estava decidido. Não pagaria mais o lanche para o vagabundo. Não pelo preço, afinal, também não me custava um pila a mais. O problema foi a audácia com a qual ele conduziu a situação. Ah, queria o pão com linguiça... aposto que ele não sabe nem que a linguiça, coitada, perdeu a trema. Pois, depois de eu muito negar, ele ainda recuou, aceitando o cachorro simples, com salsicha, mas eu tinha decidido que não pagaria. E não paguei. Ele se foi, resmungando. O dono da carrocinha ainda comentou comigo sobre o atrevimento do miserável antes que eu voltasse para a parada. Esse tem que morrer de fome, pensei. E pior que já vi muitas pessoas utilizando a palavra humilde como sinônimo de pobre.

Enfim, quando girei os calcanhares em direção ao ônibus, vi somente o espaço vazio. E, em seguida, uma longa fila que tinha se formado. Naturalmente, era para minha ansiedade pela espera da condução voltar. Voltar e crescer. Até porque o atraso, então, era bem maior. Mas, não. Não fiquei nenhum pouco ansioso. Estava indignado. Reclamava sem parar, em pensamento. A aflição pela vagareza do relógio deu lugar a cólera pela petulância do mendigo. Nem notei o tempo passar. Quando vi o ônibus estava encostando na parada. E, dessa vez, sem que um miserável viesse atrapalhar meu embarque.

O apartamento do lado - versículo 4

Ainda com o latão vazio na mão, Ringo ouviu um estouro seguido de um grito. Não sabia o que era o barulho. O brado era de Penélope. Quando abriu a porta, notou já alguns vizinhos curiosos pelo corredor. Três caras perguntavam um para o outro de onde viera o barulho. Ringo juntou-se ao grupo e disse que o problema foi no apartamento de Penélope. “Aquela gostosa...”, disse um. “Só pode ter explodido o vibrador”, emendou outro. Uma mulher, que chegou no bolinho, já alfinetou “e ela precisa disso com a quantidade de homem que trás para cá?”.