Vale a pena pegar a Free-way congestionada?
Na Free-way, sentido litoral, as madeixas ao vento. A música que sai do rádio transborda o corpo de uma energia que será paulatinamente gasta ao longo do fim-de-semana que está recém começando. No retrovisor, o pôr-do-sol, lembrando uma tela pintada por Monet, adverte que Porto Alegre está ficando para trás. Esta seria uma imagem perfeita para se viver nos fins de tarde das sextas-feiras de janeiro e fevereiro, não fosse o congestionamento da estrada. No lugar da energia da música, o sujeito é tomado pelo nervosismo e irritação com o “arranca-e-pára”. A pintura no espelho passa a ser um caminhão gordo e cheio de lenha em que o motorista não para de buzinar.
Uns diriam que o bom mesmo é ficar na praia o verão todo, sem a necessidade de deixar a cidade todas as sextas e retornar aos domingos. Ainda prefiro a ida-e-volta do que a chatísse de passar dois meses envolto pela maresia e pela areia. E também porque os dias de bebedeiras tem que ser financiados de alguma forma, já que o balanço da rede e a ingestão de álcool não trazem dinheiro. Então, faz-se o sacrifício de pegar a estrada cheia. É só pensar na recompensa.
Chegando no litoral, nada de descarregar o porta-malas ou dar uma descansadinha para tirar o estresse da viajem. Tão menos se acomodar em frente a tevê para ver o Biguebroder. O passo inicial ao chegar na praia é ir para o bar. Depois de quatro horas na Free-way não vai ser a cama que vai te fazer relaxar, e sim uma cerveja benge. Bengelada. Que não faltem as fritas, afinal, o estômago está vazio. Tudo bem que na praia é impossível encontrar batatinhas boas, mas junto com uma benge, qualquer batatinha fica boa.
Aliás, na hora de ir para a praia, um item importantíssimo é a localidade da casa, apartamento, hotel, pousada ou camping. Não é a proximidade do mar que se deve ter como prioridade e sim a proximidade com o centro ou o reduto dos bares. Tendo uma variedade de estabelecimentos que vendam cerveja por perto, não será necessário tirar o carro da garagem. Não bastam quatro horas na Free-way dirigindo, dirigindo, dirigindo e o sujeito chega na praia e quer guiar mais um pouco. Negativo. Por isso é bom veranear nas proximidades dos bares, assim sai de casa a pé mesmo e, ainda, não corre risco de acidente de trânsito.
Sábado é o dia perfeito para relaxar. Não só da noitada de sexta, mas de todas as incomodações da semana. Se sobrar tempo, sempre é bom ir à beira da praia. Nada substitui o deleite de por os pés na areia e observar sem pressa o vai-e-vem das ondas. É a maior recompensa pelas longas horas na tranqueira da estrada. Mas considero um problema fazer isso ao meio dia. Nada contra as mulheres que passam o dia inteiro sob o tórrido sol de verão para delinear suas marcas de bronze. Até admiro-as. São verdadeiras esculturas à beira-mar. Mas prefiro o final da tarde para desfrutar dos prazeres orla. Uma cervejinha, uma caipira ou um chimarrão. Qualquer bebida cai bem nesse horário, ainda mais quando se está desfrutando de boas companhias.
O problema é quando o sujeito se passa e fica até muito tarde aproveitando essa boa vida. Certamente será gigantesco o risco de, ao chegar no açougue, não ter mais um bom pedaço de carne para comprar. E, convenhamos, uma costela de boi velho ou coxinha de galinha não é o cardápio ideal para quem passou a semana debruçado sobre relatórios e equações, contando cada minuto para saborear o “churras do findi”.
Enfim, esses são alguns detalhes que explicam porque vale a pena pegar a Free-way engarrafada na sexta e no domingo. Se o camarada não bebe, sem problemas. Dá-se um jeito para se entreter com outras coisas. Inadmissível é a pessoa que roda 200 quilômetros apenas para molhar os tornozelos na “beiradinha” da praia e passar o restante do tempo angustiado por não ter o que fazer. Mas, por favor, se for para ficar preso ao computador ou a tevê, não saia de Porto Alegre. Assim, além de não pegar a estrada cheia, contribuirá para que o congestionamento diminua.
Foto: fotografiasdetelefone.blogspot.com
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