terça-feira, 27 de outubro de 2009

Feira do Livro

O perfume das flores dos jacarandás

Nada é mais certo em Porto Alegre que chuva em época de Feira do Livro. Nem que seja apenas por algumas horas, mas todo ano, em fins de outubro, uma nuvem negra e gorda se aproxima da praça da Alfândega e despeja água sobre as lonas que cobrem os stands abarrotados de livros. Para desespero dos comerciantes, o povaréu, que passeia e compra no local, se dispersa ao notar a água que cai do céu. A exceção fica por conta daqueles que, ao contrário, usam a cobertura do evento como abrigo e acabam por se perder nos saldos dos balaios.

Um por cinco, três por dez, cinco por quinze. As promoções são variadas, assim como os títulos que podem ser encontrados ali. As opções vão desde livretos infantis até os melhores romances de Garcia Márquez. Sem contar os preços simbólicos que se paga por clássicos de Machado de Assis à Hemingway. Confesso que, como uma mulher em Shopping, tenho atração irresistível por esses saldos da Feira do Livro. Vez que outra, erro o passo e levo para casa umas porcarias que me forço a sepultar a leitura antes do fim da terceira página. Entretanto, não escondo a satisfação de comprar uma obra como A Sangue Frio, de Truman Capote, pela metade do preço da Veja desta semana. Sorte minha de possuir tempo para, pacienciosamente, filtrar com perícia os balaios na busca de delícias literárias para saborear nos próximos onze meses.

Onze meses demorados para uma população sem incentivos à leitura e que lê uma média de cinco livros por ano. Mas, admitamos, é gostoso esperar quase um ano inteiro por esses quinze dias em que as ondas da calçada da Rua da Praia levam os porto alegrenses a um mar de cultura e conhecimento. O perfume das flores dos jacarandás, realçado pela umidade da chuva, é o aviso de que a sineta de abertura já pode tocar.

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