quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O apartamento do lado - versículo 3

Hoje Penélope viera de um bar. Ringo sabia que quando a vizinha vinha mais cedo para casa, trazia um “cara”. Ou uma guria. Ou os dois. Podia ouvir os ruídos da luxuria. Ao contrário dos outros vizinhos que se escandalizavam, Ringo sentia inveja. Queria bater na porta de Penélope e convidar-se para as festinhas. Lembrou dum convite que ela o fez, que o deixou ansioso e entusiasmado. Sorveu a última gota da lata de cerveja. Enquanto isso, no apartamento ao lado, Penélope ia se livrando do sutiã e da calcinha.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O apartamento do lado - versículo 2

No apartamento vizinho, morava Penélope. Assim como a homônima da corrida maluca, era comum que a chamassem de Charmosa. Ringo ouviu a porta bater. Ela chegara há pouco de uma festa... ou da faculdade. Talvez de um motel. O vizinho nunca sabia por onde aquela gata andava. Hoje ela chegou cedo. Sempre acordava os vizinhos com a batida da porta, o que gerou uma pauta pétrea na reunião de condomínio.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O apartamento do lado - versículo 1

Os ponteiros marcavam uma da madrugada. Depois de tanto se revirar na cama, como um corte de costela na churrasqueira, Ringo levantou. Abriu a geladeira e olhou. Não tinha água, não tinha suco, não tinha leite. Um solitário latão de Polar, esquecido na porta do Frigidaire, não deixou que suas entranhas secassem de sede. Tsssscrekkk. Abriu a cerveja e bebeu direto da lata.

O retorno

Foi um extenso período sem escrever nada para este espaço. Os exaustivos trabalhos da universidade, que me consumiam e ainda me roubam um tempo considerável, são a causa de não mais me deter a digitar algumas linhas aqui. As postagem que eram diárias, passaram a ser semanais e, mais tarde, quinzenais. Por pouco não deixo que cheguem a ser mensais. Mas temia muito que viessem a ser anuais.

Esse motivo me fez deixar de escrever sobre a realidade para me aventurar na literatura. Não que a falta de atualização deste blogue causasse alguma manifesto por parte da grande massa de leitores, pois esses se contentam em reler exaustivamente os mesmos textos aqui colocados. Mas me apiedei dos leitores ao perceber como são modestos, uma vez que nem ao menos deixam comentários. Parafraseando algum trecho da Bíblia, lembro que "praticai a caridade sem que os outros saibam, porque o Pai está vendo e basta que Ele saiba". Assim são meus leitores. Leêm tudo que escrevo, mas preferem o anonimato e não comentam.

Voltando, falava que agora me aventura na literatuta. Absurdo. O conteúdo que escrevo é absurdo. Advirto: não pensei que vão encontrar um Machado de Assis aqui. Nem sei se isso é classificado como literatura. Nem as idéias nem as letras são numerosas. A proposta é diferente de um folhetim convencional. Escrevo à lá Twitter. Cada capítulo com apenas um parágrafo. Vamos ver onde a história chega.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Parlamento Gaúcho

Criação da Assembleia Legislativa do RS

Até 1934 não existia, no Brasil, parlamento nas províncias. As Assembleias Legislativas, entre as quais a do Rio Grande do Sul, foram criadas em 12 de agosto desse ano, pelo governo Imperial. A lei que determinou a criação desses órgãos foi um Ato Adicional, que fez alterações à Constituição do Império, de 1824. Até então, existiam apenas os Conselhos Gerais da Províncias, que não detinham poderes legislativos. O órgão gaúcho foi implantado em 1828.

Em 20 de abril de 1835 foi realizada a primeira reunião da Assembleia Legislativa da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Nessa sessão foi eleita a mesa de 28 integrantes, sendo escolhido Marciano Pereira Ribeiro como presidente.

Para ser deputado estadual era necessário ser do sexo masculino, ter mais de 21 anos, ser católico, ter renda mínima de 400 mil reis por ano e possuir casa própria. As legislaturas eram bianuais e os parlamentares podiam, ao paralelamente, concorrer a uma cadeira na Assembleia e na Câmara dos Deputados. Por essa razão, as sessões não coincidiam com as reuniões do Parlamento Federal.


Fonte: al.rs.gov.br

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Em breve

– Em breve, meu filho – foi a resposta que recebi da minha mãe ao indagá-la sobre quando me levaria à pracinha. Não lembro ao certo se era à pracinha, mas lembro da resposta. Aquelas palavras retumbaram por muito tempo dentro da minha cabeça. Em breve, em breve.

Durante minha infância, essa não foi a única vez que obtive tal resposta da minha mãe. Perguntava para ela quando me daria um boneco dos Cavaleiros do Zodíaco, um carrinho de controle remoto ou uma bola quadrada. A resposta era fácil de saber: em breve.
– Mãe, quando vamos comer no Mequidônaldis?
– Em breve.

Hoje é fácil perceber que a véia Vanete queria me enrolar. Era fácil enrolar um pequeno que não tinha noção de tempo. Aliás, enganou-se ela ao pensar que eu não tinha noção de tempo. Sabia muito bem contar o tempo. Tão bem a ponto de dar um significado contrário à expressão em breve. Na tradução do meu paupérrimo vocabulário infantil, breve significava algo muito distante. Era o mesmo que daqui a muito tempo. As plaquinhas dos postes, que dizem Breve Jesus voltará, ajudavam a confirmar a minha hipótese. O Cristo demoraria muito para vir, logo, breve voltaria.

Mas comecei a ver algumas coisas que começaram a se contrapor ao significado de breve. Uma vez, certo apresentador anunciou vamos fazer um breve intervalo e já voltamos. Foi confuso demais. O intervalo durou, no máximo, 30 segundos. Outro dia, anunciavam que uma nova novela começaria em breve. Na semana seguinte, a trama estava sendo exibida. Havia alguma coisa de errado. Meu drama culminou quando, no jornal, li que um jogador teve uma parada breve por causa de uma lesão. O atleta ficou longe dos gramados somente uma semana. Pulei de onde quer que eu estivesse sentado para ler e corri até a minha mãe.
– O que quer dizer em breve?
– Aaahh, significa alguma coisa que vai acontecer logo, sem demora.
– Mentira.

Só podia ser mentira. Se breve fosse algo rápido, as promessas feitas por ela não demorariam tanto para se realizar. Consultei o Aurélio. Este não me mentiria, pensei. Estava errado. Apenas me confundiu mais. Encontrei lá breve: título que atesta a capacidade de um indivíduo pilotar aviões.

Desisti. A partir daquele dia decidi que não utilizaria mais a expressão. Resolvi bani-la do meu vocabulário. Até planejei perguntar para as pessoas, quando elas dissessem em breve, se elas se referiam a muito ou a pouco tempo. Não precisei por o plano em prática. Depois disso, fiquei atento a todas as vezes em que via a palavra e como ela se encaixava no contexto da frase. Foi fácil, em um breve período aprendi o significado de breve. Eu acho.