sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Carlos Cavaco, o tribuno galanteador



Sobre um banco da praça da Alfândega, Carlos Cavaco inflamava o público com suas palavras que tinham efeito de faísca. A habilidade retórica se repetia com a pena e seus protestos em favor dos trabalhadores, nos discursos e pelos jornais, retumbavam nos ouvidos do governo positivista. Um Carlos Cavaco poeta e romântico também ajudou a escrever a história de Porto Alegre. Suas peripécias, todavia, nem sempre acabavam bem.

Galã de cinema, Cavaco protagonizou o primeiro filme Brasileiro “Ranchinho de Palha”, em 1909. Conhecido por seus versos e serenatas, a atuação na telona arrancou suspiros do público feminino porto alegrense, aumentando ainda mais a sua fama de Dom Juan.

Em 1912, por exemplo, envolveu-se com Leonor, menor de idade e filha do conhecido major João Príncipe. O caso ganhou dimensão maior quando, certo dia, coincidentemente, tanto Cavaco quanto a menina sumiram. O acontecimento teve grande repercussão na provinciana Porto Alegre e a busca mobilizou um pelotão da Brigada, comandado por Chico Flores. Encontrado na copa de uma pitangueira, o sedutor foi condenado a um ano e dois meses de prisão. Quando saiu da casa de correção, onde escreveu dois livros, foi recebido com festa por seus seguidores.

Essa paixão do povo pela sua figura se devia muito ao seu carisma, mas também aos incansáveis protestos na defesa dos trabalhadores. Desde que abandonou a carreira militar e chegou em Porto Alegre, em 1904, Cavaco dedicou-se a ajudar os menos favorecidos. Influenciado pelas ideias socialistas, teve participação ativa na primeira greve geral da história do Estado, quando conseguiu unir rivais anarquistas e socialistas para lutar pela mesma causa.

Em 1908, começou a advogar. Porém jamais ganhou dinheiro algum com a profissão. Sempre atuando na defesa dos pobres, Cavaco fazia advocacia de caridade, como define seu biografo, Ivo Gaggiani. “Quando a imprensa anunciava sua presença na tribuna forense, as dependências do tribunal eram sempre pequenas para receber todos aqueles que para ali acorriam com o propósito de ouvir sua palavra”.

Durante a Primeira Guerra, uma campanha de adesão ao serviço militar foi liderada por Olavo Bilac. Em Porto Alegre, quem tomou as rédeas do movimento foi Carlos Cavaco, que após discurso épico sobre um banco da Praça da Alfândega convenceu milhares de pessoas a se alistar nas forças militares que combateriam na Europa. O conflito mundial fez com que Cavaco também liderasse uma campanha contra os alemães. Formou um grupo de mil voluntários, chamado Legionários do Sul, que literalmente incendiou as ruas da capital. Revoltados com os ataques dos submarinos alemães a embarcações brasileiras, os legionários destruíram diversos estabelecimentos de propriedade alemã na cidade.

Embora polêmico e, muitas vezes, revolucionário, Carlos Cavaco sabia utilizar seu poder de convencimento para fazer aquilo que acreditava ser o bem. Tanto nas artes quanto na política – como poeta, teatrólogo, escritor, jornalista, advogado, etc – ele buscava dar o seu melhor, não esperando retorno. Figura ímpar na história de Porto Alegre – do Rio Grande e do Brasil – Custódio Carlos de Araújo, o Toco, há 49 anos (morreu em 22/12/1961) deixou um vácuo na sociedade gaúcha.

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